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Anita Malfatti |
Então,
surge a saudade, em palavras e canções. Pode ser a saudade da própria antiga festa.
Ou pode, a festa, ser apenas um pretexto para falar de “tempos que não voltam
mais”, ingênuos e recheados de esperança.
A seguir, uma amostra.
Sodade
A “sodade”
de Cornélio Pires é ampla, não se refere explicitamente às festas tradicionais;
porém, por ser caipira no linguajar e universal quanto ao tema, eu a relaciono
intencionalmente às tradições dos festejos juninos.
Pois se trata,
agora, de apontar a saudade de eventos que se modificaram, ganharam novos
contornos, e que só nosso lembrar persistente mantém vivos, porque “a gente pega e
cutuca pra num deixar de doer”.
Sodade é uma dor que dá
mas num é dor de doê
é vontade de alembrá
é vontade de esquecê
é dor de dente, machuca
mas onde dói num se vê
e a gente pega e cutuca
pra num deixar de doer.
[PIRES, Cornélio. Disponível em: almanaquenilomoraes.blogspot.com.br/2014/03/poesia-caipira-de-cornelio-pires.]
Era uma vez...
“Era”,
“tinha”, “mudou”... A memória do passado dita as palavras. E a nostalgia da canção de Luiz
Gonzaga faz-me lembrar e parafrasear Machado de Assis: “mudaria o São João ou
mudei eu?”. (O Soneto de Natal, de
Machado, traz no último verso: “Mudaria
o Natal ou mudei eu?".)
Em vídeo,
a versão cantada pelo compositor.
São
João Antigo
Era a festa da alegria (São João)
Tinha tanta poesia (São João)
Tinha mais animação
Mais amor, mais emoção
Eu não sei se eu mudei
Ou mudou o São João
Vou passar o mês de junho
Nas ribeiras do sertão
Onde dizem que a fogueira
Ainda aquece o coração
Pra dizer com alegria
Vai chorando de saudade
Não mudei meu São João
Quem mudou foi a cidade.
Tinha tanta poesia (São João)
Tinha mais animação
Mais amor, mais emoção
Eu não sei se eu mudei
Ou mudou o São João
Vou passar o mês de junho
Nas ribeiras do sertão
Onde dizem que a fogueira
Ainda aquece o coração
Pra dizer com alegria
Vai chorando de saudade
Não mudei meu São João
Quem mudou foi a cidade.
A conversa saudosista de Chico
O lindo
poema de Chico Buarque permite ao menos duas leituras: uma, suavemente lírica,
que rememora a infância feliz, povoada de festejos, amores e projetos, deixada para trás. E outra, de
sentido mais amplo e sutil, que se insinua metaforicamente e abarca a esfera
política, em que o sonho de paz é substituído pela angústia da opressão.
Maninha
Se lembra da fogueira
Se lembra dos balões
Se lembra dos luares dos sertões
A roupa no varal
Feriado nacional
E as estrelas salpicadas nas canções
Se lembra quando toda modinha
Falava de amor
Pois nunca mais cantei ó maninha
Depois que ele chegou
Se lembra da jaqueira
A fruta no capim
O sonho que você contou pra mim
Os passos no porão
Lembra da assombração
E das almas com perfume de jasmim
Se lembra do jardim ó maninha
Coberto de flor
Pois hoje só dá erva daninha
No chão que ele pisou
Se lembra do futuro
Que a gente combinou
Eu era tão criança e ainda sou
Querendo acreditar
Que o dia vai raiar
Só porque uma cantiga anunciou
Mas não me deixe assim tão sozinho
A me torturar
que um dia ele vai embora maninha
Pra nunca mais voltar.
Ouçam, dancem, lembrem-se...
Abraços juninos e julinos.
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