Antes de mais nada, permitam-me dizer
melhor: uma reflexão para o Dia do Professor-Educador
– pois, sabemos: sua (nossa) missão não se limita a transmitir conhecimentos.
Rubem Alves opõe a dimensão do educador
ao cargo de professor, da seguinte forma: “... os educadores são como velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma
‘estória’ a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os
liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma ‘entidade’ sui generis, portador de
um nome, também uma ‘estória’, sofrendo tristezas e alimentando esperanças.”
Enquanto “professores são habitantes de
um mundo diferente, onde (...) o que interessa é um ‘crédito’ cultural que o
aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla”.¹
Ele me faz pensar no Educador que cuida
e, por isso mesmo, não pode ser absolutista nem inerte, pois observa o
desenvolvimento de cada ser, em seu momento próprio, e age de acordo. No Educador
que se equilibra: acata dúvidas, suscita inquietudes, mas também oferece
modelos e referências; permite, sem ser permissivo. Dessa maneira, sua tarefa
educativa passa a ser uma experiência desafiante, mas segura, além de fundadora
– uma vez que, por ela, mestre e aprendiz decolam da realidade conhecida,
exploram novos caminhos de reflexão e atuação, recriam expectativas, constroem
saberes e instauram o novo, fundindo experiências enriquecedoras e
transformadoras à sua própria realidade pessoal e social.
Penso (idealmente, quem sabe) naquele
Educador, de todos os níveis, que transita quase com devoção pela esfera
pública inerente ao seu trabalho, sem ignorar o espaço particular – seu e do
aluno. Não penso em qualquer professor, mas naquele que infunde entusiasmo, porque
põe a alma no que faz. Naquele Mestre que se sabe “maior que o aluno”, não por
arrogância e presunção, mas por trazer experiências a mais e sede de novos
saberes; por aceitar expor-se a riscos; por acreditar no crescimento mútuo e contínuo.
Ponho o meu foco na necessidade (inevitabilidade) do seu comprometimento
Enfim, meu olhar está naquele que, em
sua legítima autoridade, aceita, nos difíceis tempos atuais, o desafio da profissão
e suas implicações: pesquisar, estudar, preparar-se; refletir e agir na e para
a escola e a profissão (e, por vínculos necessários, na e para a vida). Que, em
seu parco tempo, descobre tempo para ouvir o outro (alunos, colegas, direção,
comunidade), ativando objetivos, projetos e ações conjuntas. Que tem o que
dizer, verdadeiramente, pelo conhecimento de sua área e de sua profissão, além
de se interessar pela realidade escolar e extraescolar do aluno, pela realidade
da escola e do micro e macro entorno.
Pergunto-me, inúmeras vezes, como nós,
educadores, podemos assumir a enorme responsabilidade de, com compaixão e
generosidade – sem deixarmos de ser críticos – contribuir para uma escola e uma
sociedade em que nós e nossos filhos, e os filhos de nossos filhos se percebam
participantes e arquitetos de um projeto humanista, no qual as diferenças
(individuais, de geração, de função, de classe) sejam aceitas e respeitadas; no
qual se busque, de fato, a unidade construtiva e solidária dentro da
diversidade.
Porque, como bem diz Baumann: “Quer eu admita, quer não, sou o guardião do
meu irmão; porque o bem-estar do meu irmão depende do que eu faço ou do que eu
me abstenho de fazer.” ²
Creio ser papel e missão de quem educa:
assumir movimentos e protagonismos no universo dos que vivem a sociedade-escola
e integrar-se, por essa via, à macrossociedade dos “homens de boa vontade”.
¹
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de
ensinar. São Paulo: Cortez, 1984.
² BAUMAN, Zygmunt. A sociedade individualizada: vidas contadas
e histórias vividas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
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