Você sabe quem está falando?
Vivemos em busca de nossa
identidade. Mesmo que, por comodidade ou segurança, sigamos o senso comum,
chega o dia em que acompanhar o rebanho nos incomoda... Queremos nossa
verdade, algo que seja nossa (bem nossa) marca – na roupa, no
cabelo, nos gostos, nas atitudes. Enfim,
queremos ser os autores de nossa própria história.
E não terá sido sempre
assim, desde a infância? Manifestamos ao
outro que, em verdade, SOMOS, mesmo em situações adversas. O “NÃO” da criança diz: “Eu sou EU!”; e essa
mensagem pode se repetir no silêncio do adolescente (ah! a negação da palavra!!!),
no tom exacerbado do adulto, no resmungo do idoso: “Eu existo, eu estou aqui,
eu sou, eu sou, eu sou... EU”.
Desse modo, nossas palavras
(por vezes entremeadas de significativos silêncios) vão, de ensaio em ensaio,
constituindo-se em voz que autenticamente nos interpreta e representa. Buscamos nossa Autoria – em atos, gestos,
palavras – e, por essa via, fortalecemos nossa identidade, como participantes
cooperativos da aventura humana, indissoluvelmente traduzida e conduzida pela
linguagem.
Revelar-se ou encobrir-se?
Esqueci
a palavra que pretendia dizer,
e
meu pensamento, privado de sua substância,
volta
ao reino das sombras. [Ossip Mandelstam, poeta russo]
Revelar-se – existir na e
por meio da palavra, escrita ou não. Porque o mundo nos vem pela palavra, é o
pensamento verbal que nos permite organizar a realidade da vida individual e
coletiva. Pensamos por palavras, verbalizamos o que pensamos e, assim, damos
“corpo” à realidade em que vivemos.
Entretanto, muitas vezes
nossa voz se esvazia de sentido, ou apenas reproduz o sentido do outro, que
pode ser o amigo, o professor, o pai ou mãe, o patrão – mesmo quando queremos o
contrário. Nessa circunstância, o pensamento não se ordena, as palavras se
embaralham; falar se torna difícil, escrever mais ainda. Nosso silêncio vela o
pensamento e nos encobre: sensação de fracasso...
Ao contrário, quando a voz é
verdadeiramente a nossa, quando as ideias são autênticas, o pensamento,
vivificado, alcança outras vozes. Então, o sentimento é de plenitude: a
plenitude da revelação do SER, para si e para o outro.
Mentes vazias ou falta de
ouvidos?
“As crianças e jovens (até
adultos!) de hoje mostram limites preocupantes ao falar, escrever, entender o
que leem e ouvem... Os estudantes de todos os níveis têm lacunas profundas, que
comprometem sua comunicação em qualquer situação que exija certa
formalidade...” Afirmações alarmantes.
A que se deve tudo isso?
Imaturidade? Desinteresse por ler, ouvir, comunicar-se, informar-se, participar
do mundo? Ou, ao contrário, múltiplos interesses da idade, do meio social, das
atividades paralelas que dispersam a atenção? Escolas, professores e currículos
insuficientes e inadequados?
Um pouco de tudo isso, ou
muito... Enfim, razões não faltam, mas o diagnóstico é sempre o mesmo: muitas
pessoas, principalmente os jovens, não têm “conteúdo”.
Às vezes me ponho a duvidar:
será que não, mesmo? Rubem Alves, em uma de suas belas e contundentes crônicas,
escreve: “Um amigo, professor
universitário dos Estados Unidos, me contou que o seu filho, que sempre teve as
piores notas em literatura, voltou um dia triunfante para casa, exibindo um A,
nota máxima, numa redação. Surpreso, quis logo ler o trabalho do filho. E só de
ler o título da redação compreendeu a razão do milagre. O título da redação era:
Porque odeio a minha escola.”
Parece que, muitas vezes, o
maior problema não é o jovem não ter o que dizer, mas não se permitir a ele
dizer o que quer dizer sobre si, sua escola, sua vida. Talvez faltem ouvidos...
Diz, ainda, Rubem Alves: “No silêncio das crianças há um programa de vida:
sonhos. É dos sonhos que nasce a inteligência. [...] É preciso escutar as
crianças para que a sua inteligência desabroche.”
Que tal fazer isso não só
com crianças, mas com todos nós? Que tal ouvir o silêncio, as palavras pela
metade, os olhares que gritam, os sonhos? Que tal visitar as redes sociais,
para penetrar mais compreensivamente no universo de todos os que têm a dizer?
Que tal criar espaços de ler, ouvir, ver, entender, refletir?
Adorei o blog. Encontrei-o em minhas buscas pela definição de PALAVRA para um post do meu blog (em andamento). Vou referenciar este seu no meu post, ok? E quando quiser acesse o meu: http://atomosdepalavras.blogspot.com/
ResponderExcluirAbraços, Syrla
Olá, Syrla. Obrigada pela visita e palavras. Também por fazer referência ao blog. Vou, sim, visitar o seu. Abraço, Lilian.
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